Uma horta de projetos

Não, elas ainda não germinaram. Mas quem pode apressar a natureza? Seria uma presunção oferecermos atalhos ao caminho natural das coisas? Presunção com certeza, mas quem sabe não poderíamos enxergar o desenvolvimento de nossos projetos de uma forma diferente?


Um dos antigos males do novo século é a famigerada ansiedade. Toda a sabedoria da natureza repousa sobre um princípio simples: aguardar o momento certo para que as coisas aconteçam. Comprei algumas sementes, resolvi fazer uma pequena horta de temperos e foi então que alguns pontos sobre gerenciamento de projetos me ocorreram.

  1. Das expectativas

Não colheremos pimentões onde havíamos plantado salsa. Isto é um fato. E ilustra perfeitamente a questão das expectativas geradas, para uma colheita feliz (sem trocadilhos) é preciso começar por um plantio consciente.


Outro ponto igualmente importante é que se plantarmos salsa, colheremos salsa. Mas somente se a plantarmos, ou seja, não podemos esperar resultados positivos de um projeto onde não haja iniciativa. Rasgue os planos e os recicle em atitudes.

Retiramos dois pontos de destaque, o primeiro: esclareça a todos o que esperar do projeto. E o segundo: Executar uma tarefa vale mais pontos do que enumerar 10 possibilidades de como fazê-la.

  1. Do prazo

Observando com carinho a hortinha, descobri algo fascinante: a mãe natureza não faz hora extra. Ou seja, cada pequena atitude, cada pequena tarefa, cada pequenino gesto tem seu tempo de acontecer e deve ser respeitado. Cada semente tem seu tempo de plantio, germinação, poda, transplante e de colheita. Neste ponto da observação, ficou claro que descrever este projeto num gráfico de Gantt, de forma linear, não é a melhor forma de fazê-lo. O cultivo de sementes, assim como os projetos obedecem um ciclo. Fiquem atentos quando digo ciclo, só podemos considerar um ciclo quando este se fecha.

Trocando em miúdos, se pularmos alguma parte do ciclo, estamos determinando que ele não se completará. Caso queiramos retornar para completar a parte restante, fica impossível fazê-lo sem passar pelas etapas anteriores do ciclo. O fato é que negligência gera retrabalho. Retrabalho gera desgaste e compromete diretamente o tempo de vida útil do projeto.

Temos mais um ponto de destaque, respeite o tempo de cada tarefa. Não deixe nada passar, procure completar o ciclo de seu projeto com capricho. Evitando retrabalho você evita, por conseqüência, desgastes. Sendo assim, a vida útil do seu projeto aumenta. E quanto maior for sua vida útil, mais relevância seu projeto ganha.

ó posso agradecer ao meu tio mais velho – que tem idade para ser meu avô – pelo que me disse: - Filho, quer conhecer sobre qualquer coisa? Observe a natureza. Que tal sair da sua mesa e sujar as mãos de terra plantando algumas sementes? Projetos melhores e quem sabe algumas flores.

Rima

Um galanteio que começa com um clichê:
"Esta noite sonhei com você."

(Reverta o clichê contando como foi a noite anterior ao sonho)

Proteje este jogo e me deixa jogar

Como quem chega numa roda de conversa sem saber uma palavra, eu os via jogando verbetes, palavras e falácias numa concordância mais que eloquente
Cada provocação tinha uma resposta, rápida, precisa, concisa. Do contrário a conversa se encerraria. Eu seguia sem entender e procurei aprender.

Nesta língua, gingar é como mover os lábios. Fica impossível se expressar.
Esqueçam os ventríloquos, cada movimento se torna uma palavra garimpada num vocabulário construído pelo corpo, cada golpe é retrucado com um verso construindo um poema que a gente chama “jogo”.

Nada melhor para envolver que um jogo, apoiado em turnos, onde ouvir ou defender tem a mesma importância de falar ou atacar. Ponderando estas duas forças, temos um tripé que sustenta esta linguagem: um ataque que fala e expõe, uma defesa que ouve e analisa e um equilíbrio que sustenta e pondera.

Ainda estou tentando tornar esta língua quase nativa, mas só de ver os sorrisos depois de um movimento ou uma palavra, a compreensão em cada golpe ou verso. Vale cada palavra ou uma expressão que aprendi numa roda de capoeira.

Uma bola por uma lição

Dia malandro de sol, ele chegou pequeno e tímido pedindo pra jogar, não havia pé que recusasse aquele passe. Toca pra cá, papo daqui e domina de lá. Ele resolveu driblar. Não só a mim, mas a timidez.

Juntou toda a coragem, me olhou nos olhos e pediu: Me dá esta bola? Não tinha nada de especial, era redonda como as outras, e ralada de asfalto como algumas. Propus um desafio e daria a bola como recompensa.

Não foi surpresa nenhuma, Léo tentou sem desistir até conseguir. Onze balõezinhos (valendo 3 reais cada um) e ele levou a bola. Com um sorriso maroto no rosto, pegou a renegada bola velha e as juntou no mesmo colo. Lhe cobrei mais empenho e treino dali em diante. Ansioso, prometeu tentar. Saiu sem dizer obrigado. Nem sequer olhou para trás, só queria uma bola nova.

Este foi o preço de aprender que só vence quem joga por amor ao jogo. Não pela recompensa da vitória. Prosperar sobre o adversário é uma consequência direta da sua paixão pelo jogo. Afinal, coração não veste camisa de tecido tecnológico e as chuteiras só existem pelo chute. Não ao contrário.

Mesa para dois

Depois de uma breve ausência um tanto despretenciosa,
nos encontramos como havíamos combinado,
bebericávamos um drinque que havia pedido para nós dois.
O mesmo que de sempre, querida? Hoje não, quero outro.

Entre um gole e outro o papo prosseguia como dois
instrumentistas fora de sintonia numa demonstração de belos temas,
mas cada um com seu instrumento. As pausas se dava pelos goles.
A cada toque de bebida no lábios mais um olhar questionador.

O que pode ter mudado? Ficamos tão pouco sem se ver.
Você parece diferente, está a me olhar diferente, disse ela.
O que está diferente, sabe me dizer? Perguntei como se não soubesse.
Não sei, só me parece diferente. E é aqui a morada do perigo.

Exatamente não saber a razão daquilo foi que fez seguirmos
cada um desrevndo um estrofe com versos que não se encaixam no mesmo poema.
Só havia um desejo inconsciente quase involuntário que a pena escrevesse.
Se não fizem sentido que fossem bonitos. Se incoerentes que fossem ousados.

Mas que continuassem sendo versos, sendo temas, só um toque.
Só um toque nos salvaria da árdua missão de encontrar uma razão no final do copo.
Ela se atreveu, me tocava e acariciava leve, tudo estava realmente diferente.
Difícil de acreditar, mas depois do tato tudo calou.

Levantamos da mesa, semi-embriagados, gratos e felizes
pelo encontro, pelo toque e por nós mesmos. Não pela música, mas pelo músico.
Não pelo verso mas pelo poeta. Não pela mulher, mas pela ousadia. Não pelo homem, mas pela covardia. Obrigado por você ter pago ela disse.

Enquanto eu ia embora, constatei como num estalo que tudo estava diferente.
O que não era comum fez o deaforo de acontecer: Ela olhou pra trás e se despediu.

Repare bem nos olhos

Repare bem nos olhos de alguem mais velho, incrívelmente parece que as palpebras crescem e ficam mais volumosas, como se olhos fossem se fechando. Num golpe de maldade, poderíamos pensar que é o processo natural da vida. Afinal, está acabando mesmo.

Um mais cético poderia levantar a hipótese de que são só rugas, marcas de experiência adquiridas com o tempo que servem para qualificar a opinião, a visão. São olhos mais experientes.

Hoje me ocorreu diferente. Os olhos não parecem se fechar, é simples poder de síntese, olhos mais experientes procuram o que realmente lhes interessa, uma questão de foco, entende? Diante de um campo de visão que pode me oferecer as mais variadas distrações, procuro focar o que realmente me interessa para sintetizar o assunto como um todo.

Que os jovens mantenham seus olhos bem abertos, colham o máximo possível no seu campo de visão. Para que todo o conteúdo possa formar uma sintese brilhante o bastante para chamar a atenção de outros olhos.

Capitão da minha tempestade

De que me adianta estar no meio desta calmaria, se meu barco só se lembra da tormenta. Seria o mais usual e tambem mais comum se meu leme me levasse por inércia ao antigo cais.

Mas de que adianta se minha embarcação ainda recorda as ondas lambendo o casco. Se só me trazem lembranças de quando o timão andava desgovernado ao sabor dos ventos. Que emoção e que aprendizado existe na bonanza? Como seriam as futuras cartas de navegação, se não fossem as lições aprendidas em cada intempérie?

Seriam apenas círculos, ciclo viciosos de um caminho sem novos ventos, por regiões já singradas por outros navegantes ou até mesmo por mim, o que seria ainda pior.
Todas as noites, recolhido no dormitório do barco, rogo a Iemanjá que me traga uma tempestade e que dela não dependa minha vida. Quero sim aprender com ela, manter meu rumo preciso no meio de cada onda abrupta.

Como capitão recem-nomeado deste barco de mim mesmo, quero subir à proa, olhar o horizonte e dizer: - Seja bem-vinda minah tempestade que voc~e não me leve de volta ao cais mas que eu não te esqueça e que depois de ti possa entender um pouco mais dos desígnios de minha mãe. odoiá!

O prazer da contradança

Hoje sou eu que lhe conduzo,
esqueça o papo fútil da sua mesa.
Deixa de lado este copo, as caras e bocas.
Pega minha mão, vem pro salão.
Hoje quero te levar.

Num movimento súbito aconchego leve
suas costas na palma da minha mão,
trago seu peito pra tão junto a ponto de sentir
pulsar no seu vestido as batidas do meu coração.
Conta o tempo, não deixa descompassar.

Saio com a esquerda, do lado errado da moral,
do lado correto da dança, checo os pés e logo miro
no fundo dos teus olhos, a meia luz com flashes
lhe deixa ainda mais bonita.

Entre um passo e outro, os pés bailam quase sem querer,
o coração já perde o ritmo de tanto bater.
Sabe aquela sensação? Já me invadiu.
E me levou a cheirar teu colo com apetite.

Um perfume floral cítrico, forte, gostoso e bonito
que dobra meus sentidos e guarda como se fosse troco.
O preço de tamanha seduçã quem paga sou eu.
Entorpecido pelo movimento do seu corpo,
pelos acordes da melodia, a batida pulsante.

Pulsante tal qual este desejo,
deixo de aocmpanhar o som e lhe tasco um beijo.
Começa perdido, suado, esquisito e vem aos poucos
encaixando-se no compasso, nota após nota, um acorde
me faz perceber que o tom era bem este.

Estamos nós dois afinadíssimos.
Sem uníssono, com total harmonia de dança, beijo,
desejo ou qualquer tema bonito que quisermos compor.
Beijo sua mão, reverencio minha dama e agradeço a dança.

Nizan e o destino

Hoje vi uma entrevista de Nizan Guanaes. E tenho certeza que todos os amigos publicitários já se arrepiaram em suas humildes cadeiras e dobraram a atenção só pelo nome que citei. Mas o ponto mais importante da entrevista era exatamente outro: você.

O que sempre me assombra nestas entrevistas, seja com Guanaes, com Serpa, com Fábio ou qualquer bambambam que seja é descobrir que eles são exatamente Nizan, Marcello e Fábio. São pulsantes, vibrantes, humanos e emocionantes como eu e você.

Vejo também que passam dias e anos a fio tentando compreender a inteligência e as paixões quem lhe movem, tentando entender você amigo. De surpresa, os holofotes estão virados pra você.

Aí sim temos o creme de nata da entrevista. “A tradição do mundo é mudar.“ Você muda de opinião, de roupa, de jeito, até de cara. Parece que você já viu esta ladainha em algum lugar, não é mesmo. No entanto, olhemos por um prisma diferente: você só muda neste ritmo e neste volume quando se apropria de seu destino, pega o teclado da mão do acaso e começa a escrever seu destino. Não se esqueça que não dá pra editar as postagens que você escrever. Não existe ensaio, só biografia. Dê conta da sua.

O mais provável é que gente interessante corre atrás de conteúdo interessante. Então nem revise seu destino, escreva sem medo de usar a borracha. Construa seu estilo através de cada palavra.

Finalmente, faça seus ouvintes, leitores e adjacências se arrepiarem com cada história, faça-os dobram a atenção às suas aspas. E celebre ser mais um, mais um cara peculiarmente interessante.

Teaser da entrevista no programa Reclame do Multishow

Virou música!

Primeira composição de Johnny Mendonça, uma faixa que fala de zonas de conforto num relacionamento a dois e da doçura de um conturbado amor que nega-se a ser convencional.

Camisa amarrotada (versão caseira)

Dá o play e fica a vontade.

O galanteio e a poesia

Qual a linha que divide o galanteio da poesia?
Penso ser exatamente a ousadia.

O máximo da idealização
é o que faz de um poeta ousado.

O máximo da realização
é o que faz um galanteador poético.

Encontrar poesia em cada galanteio
ou sedução em cada poesia,
depende apenas dela, a ousadia.

Do alto da obra

Não dá para negar, para não sentir,
Não dá para se abster daquela presença.
Volto ao trabalho guiado pelos sentidos,
Ela passa como uma oportunidade,
única e arrebatadora.

Quem não agarra, não aproveita,
mas quem ousaria? Parece agressivo.
Mas não seria mais nocivo que aqueles olhos.
Já não bastava ter preenchido um dos meus sentidos,
Me leva outro.

Me desconheço naquele presença,
Instaura-se uma confusão que me deixa mudo.
Seguida de uma bobagem que me põe a falar.
Só volto a si na sua ausência.

E a obra só se completa quando ela voltar a passar.

Perfume leve

Ela passa por mim,
Sinto um perfume leve,
cítrico, primaveril.
Uma beleza fresca.

Um aroma delicado.
Quem dera ela se portasse assim
Leve e delicada,
doce, aveludada.

Mas é densa, complexa,
perplexa em silêncio,
um olhar que busca todas as respostas
e que seja em uma só pergunta.

Mas o que me encanta é isso,
É este perfume que não tem o menor compromisso
de ilustrar a mulher que ela é.
E que deste engano se alimente o meu encanto,
enquanto não passa o torpor daquele perfume.

Amar as curvas

Amar as curvas parece fácil, observar e deixar-se levar pela tentação descrita em sua forma mais bruta é bem simples. Está tudo lá revelado pela luxúria e pela auto-estima elevada ao extremo. Um extremo tãe exagerado que deixa de ser estima. O mais admirável é descobrir a beleza oculta e lapidá-la, amar as celulites. Perdoa amor, o que quis dizer é, encontrar bons sentidos em todos os defeitos.

Quero que cada imperfeição que eu encontrar a torne única e faça de ti apenas mais interessante e mais irritante, que me tire o juízo. E quando me sentir longe de qualquer avaliação centrada, me entregue ao que sente minha carne e não pense em mais nada.
Nas perfeições extremas e nas belezas intocadas é que mora o pecado, sete, ou no mínimo um deles. Agradeço a convicção e o alívio que me dá quando vejo que você não é perfeita, e que nossa relação vai precisar ser refeita a cada nova descoberta. Porque a mesmice da beleza eterna enjoa, prefiro que você me surpreenda a cada vestido novo.

Importante mesmo é o momento que o amor se refaz.

Rota de saída da mesmice

Capítulo 1: Entre nós dois.

1.1) Use a mão esquerda para acariciar quem você ama.
Uma simples mudança de gesto pode renovar um relacionamento.

1.2) Ao acordar, ponha um CD para o seu amor.
Depois coloque suas sensações no modo randômico. Você vai saber qual a próxima música. Mas as sensações, estas vão lhe surpreender.

1.3) Grave outro CD com 10 músicas.
5 que seu amor goste e 5 que você gostaria que ouvissem juntos. Não há nada melhor para descrever um romance do que uma trilha sonora.

1.4) Abram uma garrafa de um bom vinho.
Duas taças, uma trilha e uma troca de olhares: cenário perfeito.

O que adicionaria a esta lista? Sussurre bem baixinho no ouvido dela(e) e depois me conta...

Xeque-mate

Num simples movimento,
o peão monta o cavalo,
pede benção ao bispo,
atravessa o tabuleiro,
sobe a torre,
foge com a rainha
e derruba um rei.

E antes de se mover
era um simples peão.

Roda de Samba

Malandro mesmo é o cavaquinista que acompanha os músicos da velha guarda na roda de buteco monta sua melodia ao redor de um mí menor, se engana com um fá sustenido e volta ao lamento com um sí menor. Surpreende e mostra a ginga no lá com sétima depois da dominante. O acorde questiona, incomoda. O correto é responder com ré maior e entoar o refrão, aproveitar o estribilho, até cair no próximo mi menor.

Ofício: Diretor de arte

Muito prazer, eu sou diretor de arte. Sim, isso mesmo: Diretor de Arte.
Não, não sou aquele rapaz que “manja” de Corel. Aliás, já nem uso o Corel.
Não, não posso dar aquela “tratadinha” na foto da sua sobrinha.
Que tal conversarmos um pouco?

Queridos amigos para falarmos um pouco mais sobre direção de arte,
gostaria que vocês minimizassem o Corel, o Illustrator, InDesign e o Photoshop.
Fechem a janela do navegador e deem um duplo clique na janela do raciocínio.

O ofício de um diretor de arte não vai muito além da sua própria definição.
Direção, no sentido de direcionar mesmo, dar uma direção.
Mas direcionar o que? Direcionar seus olhos. O que eles enxergarão primeiro?
E como vão interpretar o que eles veem. Essa é a doce missão de um Diretor de Arte.

Se para você parece simples, tente prestar atenção às coisas que prendem seu olhar
E pense por um minuto porque seus olhos ficaram presos ali. Pode ser uma foto,
uma cena, um anúncio, uma vitrine. Imagine agora que alguém planejou que seus
olhos parassem ali. Pense em como e porque aquele objeto chamou a atenção dos
seus olhos. Complicou?

Bom, a parte da direção está ok! Agora, como fazer isso tendo as artes como ferramentas?
O que seus olhos preferem ver? Uma foto, um filme, um cartaz? Qual a melhor forma
de você entender esta mensagem que quero lhe passar? Eu escolhi este texto para passar minha mensagem porque tinha argumentos para apresentar, ideias para discutir, foi a melhor forma?
Você, amigo(a) leitor(a) quem me dirá.

Direcionar seus olhos para uma mensagem utilizando as artes para isso, isso é coisa de raciocínio.
Não do pacote da Adobe. Quer provas? Duvido que aconteça alguma coisa depois do “Ctrl+N”
sem você pensar um pouco. Depois do raciocínio, do pensamento, do esmero, vem o resultado.
Quer uma contrapova? A melhor figura para alguém que não pensa nada é uma folha em branco.
Ao abrir o seu programa gráfico favorito, pressione "Ctrl+N", veja o que acontece...
Uau! Uma folha em branco. Fato: Nenhum programa pode pensar por você.

Quando alguém se apresentar como Diretor de Arte, imagine alguém que se dedicou a estudar as artes
e entendê-las de uma forma que possam guiar seus olhos para uma mensagem que ele queira lhe passar, que você possa entender.

Se esta pessoa não se encaixar neste perfil, a frase correta seria: Muito prazer, eu sou um charlatão.
E já lotamos o inferno de boa intenção. Então, se você procura um diretor de arte, procure quem conheça seu olhos.

Genial

Não é simplesmente genial? É exatamente assim que você pensa depois de um toque de mestre, uma pincelada, um clique ou uma palavra. O que traz a genialidade à tona é simples. Parece pequeno, mas é exatamente o que define o que é genial.

Não consigo ver outra forma de definir isto que estou dizendo senão as palavras de um simples gênio:
"Simplicidade é a última forma de sofisticação."
Leonardo tocou no exato ponto que eu gostaria de ilustrar: conseguir alcançar a simplicidade é sublime.
Em tempos que a simplicidade de um rei venceu o carnaval. Quero demosntrar como a simplicidade torna o comum genial.

Ele pega a bola e num toque dribla o zagueiro, arma o chute e próximo ao desfeho óbvio, surpreende a magnética e limpa não apenas um mas dois zagueiros, e num simples toque sem força, todo jeitoso, coloca a bola no gol.

Você abre a revista e entre uma página e outra se depara com uma imagem que lhe leva a questionar: O que é isso? Do que se trata? e numa simples frase ele lhe surpreende, lhe mostra um produto sob uma ótica inesperada. Primeiro, genial quem trouxe a foto que lhe tirou da sua pífea zona de conforto. E por fim, ainda mais genial quem soube sintetizar tudo isso numa frase e lhe mostrar uma nova perspectiva construindo apenas uma frase. Isso, senhoras e senhores, é simplesmente genial.

Ele abre sua máquina de escrever e descreve estrofe após estrofe um clima, um mundo, abre as portas de um ponto obscuro teu que nem você mesmo conhecia. Ele rima, ou não, mas é certeza que de verso em verso ele arrebata seu coração e num simples vocábulo garimpado de toda sua poesia, retira todo seu folego e faz sorver aquela lágrima, você nem se lembra que era capaz de chorar com palavras. Esta palavra é genial.

Nada que é complicado, confuso, prolixo, ambíguo e descartável pode ser genial.
Ser objetivo, sucinto e simples, nem preciso dizer não é?

E se eu conseguisse lhe dizer tudo isso em apenas uma frase de sete palavras?

Minha carne é de carnaval

Sugiro carregar este vídeo e executá-lo junto com a leitura:
Ensaio Técnico da "Furiosa" - Salgueiro (2005) Faz toda diferença!

Minha carne é de carnaval, meu coração é igual,
Desejo que meu carnaval seja da bateria furiosa,
Bate no surdo de primeira, respira no de segunda.
Que o de terceira seja só a sensação louca da batida acelerando.

Está pronto o cenário pro meu samba renascer brilhante e pungente
Que os tamborins sejam cada arrepio do meu samba-enredo
A melodia descrita neste cavaquinho renasceu dos meus lamentos.
E a paixão por cada lantejoula daquele barracão me tirou as lágrimas,
E transformou meu peito na avenida de uma doce ilusão.

Nesta bateria coube a você o repique, que sinaliza, alinha a andamento.
Onde estava com a cabeça de lhe dar o comando das paradas?
Minha bateria evolui sem recuo, faz o desfile, transforma o momento.
Se ela parar de bater, deixo de viver.

De viver este momento, esta batida, esta doce ilusão.
Por isso, meu amor, lance a serpentina, e não deixe o samba atravessar,
Meu coração depende desta batida.

Se for pra me amar...

Se for pra me amar, Que me deixe voar,
pra longe e bem longe, que não questione o destino do vôo
mas aprecie o reencontro da volta.
Que saiba fazer da ausência tempero indispensável ao nosso paladar.

Depois de alguns dias longe, com a cabeça no lugar,
amar vira verbo intransitivo e não precisa mais
do objeto de desejo para acontecer.
É só um sentimento que cresce,
floresce e tem tudo para ser compartilhado.

Uma ilha cercada de paixão por todos os lados

Estou ilhado em mim e não consigo sair.
Estou curtindo uma paixão tão profunda,
Não por nada e nem pro ninguém.
Pela simples delícia e pelo simples deleite da paixão.

Arde muito, queima forte, mas me parece tão aconchegante.
Por que você não fica mais? Engraçado encontrar aconchego
No desassossego deste desconforto.
Sentir-se assim é o que me move, e o resultado deste sentimento
É o que mais me comove.

Um vermelho tão intenso de um coração pulsante desenhado
No canto de um papel de caneta vermelha assinando um poema
Anônimo, sinônimo de paixão platônica, sem resposta, atônita.
Mas que mesmo sem som, traz um sentimento tão bom
Que não dá pra recusar.

Por que você não fica mais?



Imagem em www.baubauhaus.com

Miopia

Você já percebeu que toda vez que nos encontramos em mesa de quatro cadeiras, nunca nos sentamos de frente um para o outro, escolhemos o lado que mais nos agrada e o lado que ficamos mais próximos. Já percebeu que a primeira coisa que faço, depois de deixar minha carteira e meu telefone na mesa, é tirar os óculos. Este sim é um hábito a se observar.

Será que sem óculos volto a ser míope e não enxergo o longe, deixo o que está distante desfocado e volto minha atenção ao que visível e tátil? O presente momento, mais conhecido como “agora”, fica mais nítido aos míopes do que a distância dos planos futuros.

Sem óculos não te vejo tão nítida quanto deveria, me confundo entre as linhas do rosto, fica difícil delinear o limite do conteúdo, forço os olhos e continuo observando mudo. Sem óculos não existem barreiras entre seus olhos e os meus. Sem óculos deixo de ser perfeccionista, observador e analítico, não uso mais os olhos, só os olhares.

Ao retirar da minha linha de visão as lentes, escolhi te ver de um modo mais natural, mais pessoal, mais meu. Ou melhor, te ver mais minha. De que importa o que está longe? Para um míope desde menino só interessa o que está próximo. Será que os outros animais tem miopia? Para a minha descobri a melhor razão de existir: trazer você perto de mim.

— João, que tal trocarmos seus óculos por lentes de contato?
— Melhor não doutora, obrigado.

Yang

Estou enjoado de falar sobre equilíbrio, isso está certo assim… seria melhor se…Mudo duas letras de lugar, e fico enojado de tudo parecer tão correto. Hoje estou aqui pra falar do sujo, do que não fora quisto. Não quero falar nem do lado bom e nem do misto. Só do que não havia de ser dito.

Quero sim escrever a mão os versos que as vezes cogito e entregá-los, com um beijo súbito, inesperado, à aquela desconhecida. Vou dizer a ela tu é gostosa num poema tão imoral quanto o que eu quero: recitar dois poemas no mesmo leito de desejo, elevar a luxúria. Saborear a fantasia.

Quero escarrar os nomes mais sujos quando me sentir traído, iludido, ferido e depois afagá-la com afeto. Daqueles afetos que só acontecem antecedendo uma vil punhalada. Vou ser frio e canalha nestes momentos, tudo para lhe mostrar este lado dos meus sentimentos. Quando me quiseres, não terás. E quando não, terá em dobro.

Vou agarrá-la com força, jogá-la contra a parede e olhar fundo nos teus olhos e te ver assombrada com minha indiferença. Vou lhe entregar flores que murcharão no segundo dia. Para que entenda de onde vem minha rebeldia. Vou rasgar nossas fotos, molhar nossas cartas com um vinho barato do qual me embebedei.

Se me ligar, não atendo. E qualquer mensagem sobre minha falta, não respondo. Vou quebrar em pedaços aquele disco da Elis que você me deu. Vou lhe enviar um dos cacos num envelope pra que você sabia em que pedaço você esteve. Se me perguntar, vou dizer que estou bem e de um jeito que você jamais me fez.

E depois de tudo destruído, quero que isto que temos entre nós volte a existir. Renasça das cinzas que queimei. Esperando que você tenha compreendido, que tudo isso é exatamente o que nunca pensei, algumas coisas sim, não tudo.

Olhos nos olhos. 1 minuto mudo.

Manifesto do jogador descalço

Habemos a nova camisa da seleção brasileira de futebol. Nosso patrocinador que me perdoe mas não nos vimos naquela camisa. O amarelo de sempre estava lá lembrando épocas áureas do futebol mais bonito do mundo. Mas uma coisa fora o amarelo incomodou, jogamos de corpo sim, mas fechado nunca. Somos guerreiros com certeza mas de uma guerra própria que se passa dentro de cada jogador, chamamos esta guerra de superação. Transpor o próprio limite a cada lance, propor o inacreditável a cada jogada. Este sim é o puro futebol brasileiro sem faixa verde.

Brasileiro não veste camisa, o futebol está direto na pele. A cor miscigenada de cada jogador já é uma camisa. Desde pequenos estamos acostumados a jogar descalços num gramado de cor bem diferente, cinza-asfalto ou marrom-chão-batido. Por isso, não há chuteiras que deem mais controle de bola do que um legítimo pé brasileiro. Nada mais preciso no chute de que uma original trivela. Neste caso, nem precisamos dos cinco dedos do pé. Que nos digam os magos que faziam gols de biquinho, abusando da destreza do dedão. Para a beleza do futebol brasileiro sem chuteiras, apenas um dedo já é suficiente.

Aprendemos desde as peladas de rua a proteger a vida e a bola. "Olha o carro!" vem a cabeça de qualquer menino ou menina do Brasil com a bola no pé. Logo, meus amigos, não há zagueiro brucutu que nos faça tremer com a redonda entre os pés. E estes zagueiros têm outra maldição para lidar: nunca jogamos sozinhos. Quase heresia à religião futebolística brasileira jogar bola sozinho. A rechonchudinha não sai debaixo do braço dos meninos até juntar a turma toda, dois no mínimo. Mas onde está a maldição?

O futebol brasileiro é generoso e nunca revelou um gênio por vez. Somos ao menos uma dupla. Pelé e Garrincha, Tostão e Rivelino, Sócrates e Casagrande, Bebeto e Romário, Diego e Robinho, Lucas e Casemiro, Ganso e Neymar entre outras duplas. A maldição é exatamente essa, não existe adversário que possa apresentar uma dupla de zaga genial. Quando os holofotes caem sobre um craque, ainda sobra outro livre pra marcar.

Tanta generosidade e abundância no bate bola confunde desde zagueiros adversários a patrocinadores de material esportivo. Não conseguiriamos fazer um filme magistral e com clima guerreiro. Nosso espetáculo não tem apenas um protagonista. Além disso, sorrimos demais. Exatamente por isso, não nos vimos naquela camisa com símbolo de guerreiro de corpo fechado. A tentativa foi boa, mas existe um outro futebol atrás das camisas e chuteiras tecnológicas. Um futebol que sorri a cada toque consciente na bola, que se concentra na precisão de um simples passe, que caçoa do companheiro que levou um drible desconsertante. E nessa brincadeira formamos jogadores mais atentos, mais ligados, tão ligados que conseguem as tabelas mais rápidas e inteligentes do futebol mundial. Aqui o show não depende de 1. É feito em cima do 1-2.

Umbabarauma. Onze letras, onze corpos e uma alma, a de menino jogador brasileiro.
Somos onze pontas de lança que aprenderam a entrar desacreditados e sair vitoriosos. Assim como aquela bola que vai correndo perdida para a linha de lado, até a garra de um lateral a salvar da saída, faze-la ganhar a linha de fundo. E este lateral, quando levanta a cabeça e olha o jogo, já traça o destino: passe na área, domínio e gol. Este é o trabalho do ponta, típica posição e invenção do futebol tupiniquim, atacar por onde ninguém espera, propor o inacreditável.

Num dia de chuva e estádio cheio. Queria que a seleção jogasse apenas um jogo sem camisa e descalça, para reviver e reacender a alegria e o êxtase do jeito brasileiro de jogar futebol.

Um perfume para Napoleão

Estava bem debaixo de seu nariz e ele não via. Napoleão gostava de perfumes, vivia encantado com as essências o coitado. Talvez desde cedo tenha desenvolvido esta anomalia obssesiva pelo perfume de um colo feminino. Era quase um segredo que guardava dentro de si, uma busca incessante e persistente a um determinado cheiro que errou de lugar, ao invés de habitar o olfato, habitava o pensamento.

Mal sabem os historiadores que a ambição de Napoleão era nada além de reviver a doce sensação daquele perfume. Com uma ressalva, agora no mundo das coisas, longe do mundo das ideias. Correu o mundo, conquistando nações e multidões, derrubava exércitos e levantava saias com o mesmo objetivo: reconquistar sua essência perdida.

A busca lhe tomou tanto tempo que pretensiosamente se considerou um perfumista entendido do gênero, e o era de fato, devido á sua vasta experiência em fungadas nos cangotes alheios. E por tabela, um exímio estrategista militar e conquistador. Barato, diga-se de passagem. Custaria o preço de um frasco de perfume.

Esta, meus senhores, é uma velha máxima entre os homens, não há nação, ideal, bem material ou virtude que seja mais cara que o frasco de um belo perfume. Uma nação pode trocar de bandeira, um ideal pode parecer obsoleto e uma virtude pode desaparecer por simples desuso. Mas um perfume perdido, isto não se esquece. Napoleão sabia disso.

Depois de anos a fio nesta mesma empreitada, acabou derrotado por um único inimigo: a pretensão. Como poderia dividir os perfumes em notas, acordes afim de reconstrui-lo? Seria uma obra divina, inalcançável a um mortal? Considerava que não, por isso caiu. E escondendo as lágrimas da derrota com as mãos junto ao rosto. Sentiu mais uma vez seu próprio odor. Um cheiro tão peculiar quanto único.

Enfim, sozinho na ilha de Santa Helena se deu conta que ao pedir que sua amada repetisse a fragrância de um determinado encontro, que usasse mais uma vez aquele perfume, nunca seria atendido. Perfumes nada tem a ver com essências. Essências são inerentes e inseparáveis ao seu momento de olfato. Perfumes são reconstruidos e engarrafados. Morreu envenenado por uma angustia que nunca acabaria, a angustia de um momento que nunca se repetiria.

Onde é mais seguro?

Onde é mais seguro?
Dentro do ninho ou cercado pelo muro?

Melhor manter a luz acesa
ou se aventurar no escuro?

Ficamos entre a racionalidade da visão
e o sentimentalismo do tato.
Na distância do sonho ou no toque do fato?
Quando o tempo quiser ou neste momento exato?

Se ser ou não ser fosse a única questão,não arderíamos em dúvidas.
Cada escolha implica numa renúncia.Simples como A e B, 0 e 1.
O que torna complexo é exatamente o volume da simplicidade.

E se esta regra já está batida, o que de melhor posso ter da vida?
Senão escolhas.
Comemoremos a possibilidade de escolher e não o tempo que gastamos
pensando nas escolhas que temos a fazer.

Por que dizemos: "Preciso sair pra pensar..."? Quando o correto é entrar.
Aí é que vem o medo do escuro, medo de conhecer o que há dentro do muro.

Que os muros permaneçam lá, mas que eu saiba o máximo de coisas
que dentro deles há.

E ao me conhecer, eu possa me mostrar ao mundo como sou.
E que antes de me apegar demais, eu possa dizer: Já vou.

Camisa amarrotada

Vem ser meu desalinho,
Não me deixe sozinho neste conforto de amargar,
Põe gravetos em nosso ninho,
Motiva esta paixão a voar,

Combina um café ou um almoço,
Faz deste peito aquele antigo alvoroço,
(Este só você saber aprontar)
Esquece a regra e pega de novo
De um jeito pra não mais largar.

Amarrota o lençol, se debate na cama,
Me xinga, briga, depois diz que me ama.
Me olha daquele jeito que não sei se
Te deixo ou te beijo.

Resolve minha dúvida, me beija.
Me dá alguns segundos de chamego,
Depois me tira o sono e o sossego
Ao ouvir que você também me deseja.

Vem ser, mais uma vez, meu desalinho,
Não me deixe sozinho neste conforto de amargar.

Orquestra em silêncio

Uma certa doce insegurança o rondava, uma dose de precipitação em um copo curto e algumas pedras de gelo. Decidico levanta-se da poltrona, veste seu fraque escolhendo o melhor caimento para cada vetimenta, tinha se banhado e se embebecido em água de cheiro. Uma vaidade boa de sentir, aquela que precede o encontro.

De tão ansioso errou o caminho, caminhava pelas ruas do centro velho. Esperava e antecipava cada situação que poderia vir. Preparou os argumentos e os momentos com a minúcia e a frieza de um hábil diretor de cena.

Olha o relógio e descobre que a hesitação o tinha atrasado, não minutos, mas horas.
Chegou em tempo para o último ato. A orquestra tinha um som cheio, completo e complexo que enchia os ouvidos, quase atordoante.

Um gesto abrupto do maestro e o som se torna um silêncio inquitante e persistente e que parece resistir à qualquer tentativa de quebrá-lo. A cada novo compasso de pausas, mais e mais dúvidas e questõe slhe vinham à cabeça. O vazio se tornou uma oficina aberta às experimentações do caos.

Quando as respostas pareciam se aproximar e delicadamente se aconchegarf em seu colo, num movimento o maestro traz de volta toda a sonoridade de sua orquestra.
Quando as semibreves e as semínimas voltaram a habitar a pauta dos músicos é que se fez bem claro: Quão valoroso é o silêncio.

Não só, com o atordoante e ligeiro movimento que os intrumentos ressoavam se fez ainda mais límpido o valor inestimável de cada nota e de cada pausa. O yin e o yang, o complemento dos opostos, o silêncio e o som.

Lembrou-se da falta dela e da imensa pausa que havia na partitura deles dois.

Zito e o níquel

Desiludido com mais uma investida malsucedida da vida amorosa, Zito caminhava pela madrugada. Assobiava uma canção de Cartola depois de ter pendurado mais uma naquele botequim. Embriagado pela incoerência da alma feminina colocou-se a pensar em como entender se o andar cambaleante e a carência de equilíbrio não lhe roubassem a atenção.

Fuçou os bolsos da velha calça jeans companheira e encontrou um níquel, seguiu caminhando a girando a moeda nos dedos. A bebida foi pouca mas ficava muito por entender. Como uma mulher pode ser tão bonita. Seria diretamente proporcional ao tamanho da desilusão que ela pode causar? Creio que não, só este critério é pouco.

Depois de assobiar o cancioneiro do samba de raiz e muitos quarteirões cambaleantes viu que como a moeda, a beleza feminina tinha dois lados. Um lado que encanta, deixa embasbacado, bobo, apaixonado e o lado que deixa escondido, entorpecido, insconsciente e mascarado.

Funciona assim, ao se deparar com a beleza, você quer se aproximar, entender, tocar, usufruir, desfrutar. De tão focado à esta nova situação seu estado no relacionamento social só tem uma definição: abestado. Obrigado ao pessoal do Nordeste pela definação precisa. è um desejo bestial, meus amigos, que bloqueia qualquer mera tentativa de raciocínio lógico.

No entanto, a paixão tem lá suas platonices. Tudo só fica tão bonito assim quando é inalcançável, inatingível. Depois desta xícara de café e banho gelado fica fácil ver que de tão besta que ficaste ante à beleza, você nem saiba o nome dela, ela já fica como musa na poesia. Ela é gente, tem gosto, tem cheiro, tem defeito. Talvez ela goste de música brega. Mas, neste caso, eu também gosto. Talvez ela tenha chulé.

Finalmente, Zito pôs a chave no portão de casa, guardou a moeda no bolso e se deu conta que uma moeda só tem valor porque tem os dois lados.

Mãos lisas não seguram oportunidades.

Só depois de muito trabalho é que a mão caleja.
Calejar, meu amigo, significa repetir, insistir, persistir.
Assim mesmo, nesta mesma ordem.
A diferença que há entre os verbos é a experiência.

Mãos calejadas são ásperas.
E só quando o atrito aumenta é que a oportunidade não escapa.
Oportunidades, senhoras e senhores, são como cordas.
Como as cordas que içam as velas de um veleiro que só repousa no êxito.

Mãos lisas não conseguem segurar as cordas,
não içam velas, não sabem velejar.
Às mãos escorregadias faltam os calos.
Que aproximam, aquecem e suportam as oportunidades.

Olhe para as suas mãos e pense onde seu veleiro vai atracar.
Repita, insista, persista, resista a cada escorregão.
Só os clãs de sua mão sabem o melhor maneira de alcançar o que deseja.