Zito e o níquel

Desiludido com mais uma investida malsucedida da vida amorosa, Zito caminhava pela madrugada. Assobiava uma canção de Cartola depois de ter pendurado mais uma naquele botequim. Embriagado pela incoerência da alma feminina colocou-se a pensar em como entender se o andar cambaleante e a carência de equilíbrio não lhe roubassem a atenção.

Fuçou os bolsos da velha calça jeans companheira e encontrou um níquel, seguiu caminhando a girando a moeda nos dedos. A bebida foi pouca mas ficava muito por entender. Como uma mulher pode ser tão bonita. Seria diretamente proporcional ao tamanho da desilusão que ela pode causar? Creio que não, só este critério é pouco.

Depois de assobiar o cancioneiro do samba de raiz e muitos quarteirões cambaleantes viu que como a moeda, a beleza feminina tinha dois lados. Um lado que encanta, deixa embasbacado, bobo, apaixonado e o lado que deixa escondido, entorpecido, insconsciente e mascarado.

Funciona assim, ao se deparar com a beleza, você quer se aproximar, entender, tocar, usufruir, desfrutar. De tão focado à esta nova situação seu estado no relacionamento social só tem uma definição: abestado. Obrigado ao pessoal do Nordeste pela definação precisa. è um desejo bestial, meus amigos, que bloqueia qualquer mera tentativa de raciocínio lógico.

No entanto, a paixão tem lá suas platonices. Tudo só fica tão bonito assim quando é inalcançável, inatingível. Depois desta xícara de café e banho gelado fica fácil ver que de tão besta que ficaste ante à beleza, você nem saiba o nome dela, ela já fica como musa na poesia. Ela é gente, tem gosto, tem cheiro, tem defeito. Talvez ela goste de música brega. Mas, neste caso, eu também gosto. Talvez ela tenha chulé.

Finalmente, Zito pôs a chave no portão de casa, guardou a moeda no bolso e se deu conta que uma moeda só tem valor porque tem os dois lados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário