O prazer da contradança

Hoje sou eu que lhe conduzo,
esqueça o papo fútil da sua mesa.
Deixa de lado este copo, as caras e bocas.
Pega minha mão, vem pro salão.
Hoje quero te levar.

Num movimento súbito aconchego leve
suas costas na palma da minha mão,
trago seu peito pra tão junto a ponto de sentir
pulsar no seu vestido as batidas do meu coração.
Conta o tempo, não deixa descompassar.

Saio com a esquerda, do lado errado da moral,
do lado correto da dança, checo os pés e logo miro
no fundo dos teus olhos, a meia luz com flashes
lhe deixa ainda mais bonita.

Entre um passo e outro, os pés bailam quase sem querer,
o coração já perde o ritmo de tanto bater.
Sabe aquela sensação? Já me invadiu.
E me levou a cheirar teu colo com apetite.

Um perfume floral cítrico, forte, gostoso e bonito
que dobra meus sentidos e guarda como se fosse troco.
O preço de tamanha seduçã quem paga sou eu.
Entorpecido pelo movimento do seu corpo,
pelos acordes da melodia, a batida pulsante.

Pulsante tal qual este desejo,
deixo de aocmpanhar o som e lhe tasco um beijo.
Começa perdido, suado, esquisito e vem aos poucos
encaixando-se no compasso, nota após nota, um acorde
me faz perceber que o tom era bem este.

Estamos nós dois afinadíssimos.
Sem uníssono, com total harmonia de dança, beijo,
desejo ou qualquer tema bonito que quisermos compor.
Beijo sua mão, reverencio minha dama e agradeço a dança.

Nizan e o destino

Hoje vi uma entrevista de Nizan Guanaes. E tenho certeza que todos os amigos publicitários já se arrepiaram em suas humildes cadeiras e dobraram a atenção só pelo nome que citei. Mas o ponto mais importante da entrevista era exatamente outro: você.

O que sempre me assombra nestas entrevistas, seja com Guanaes, com Serpa, com Fábio ou qualquer bambambam que seja é descobrir que eles são exatamente Nizan, Marcello e Fábio. São pulsantes, vibrantes, humanos e emocionantes como eu e você.

Vejo também que passam dias e anos a fio tentando compreender a inteligência e as paixões quem lhe movem, tentando entender você amigo. De surpresa, os holofotes estão virados pra você.

Aí sim temos o creme de nata da entrevista. “A tradição do mundo é mudar.“ Você muda de opinião, de roupa, de jeito, até de cara. Parece que você já viu esta ladainha em algum lugar, não é mesmo. No entanto, olhemos por um prisma diferente: você só muda neste ritmo e neste volume quando se apropria de seu destino, pega o teclado da mão do acaso e começa a escrever seu destino. Não se esqueça que não dá pra editar as postagens que você escrever. Não existe ensaio, só biografia. Dê conta da sua.

O mais provável é que gente interessante corre atrás de conteúdo interessante. Então nem revise seu destino, escreva sem medo de usar a borracha. Construa seu estilo através de cada palavra.

Finalmente, faça seus ouvintes, leitores e adjacências se arrepiarem com cada história, faça-os dobram a atenção às suas aspas. E celebre ser mais um, mais um cara peculiarmente interessante.

Teaser da entrevista no programa Reclame do Multishow

Virou música!

Primeira composição de Johnny Mendonça, uma faixa que fala de zonas de conforto num relacionamento a dois e da doçura de um conturbado amor que nega-se a ser convencional.

Camisa amarrotada (versão caseira)

Dá o play e fica a vontade.

O galanteio e a poesia

Qual a linha que divide o galanteio da poesia?
Penso ser exatamente a ousadia.

O máximo da idealização
é o que faz de um poeta ousado.

O máximo da realização
é o que faz um galanteador poético.

Encontrar poesia em cada galanteio
ou sedução em cada poesia,
depende apenas dela, a ousadia.

Do alto da obra

Não dá para negar, para não sentir,
Não dá para se abster daquela presença.
Volto ao trabalho guiado pelos sentidos,
Ela passa como uma oportunidade,
única e arrebatadora.

Quem não agarra, não aproveita,
mas quem ousaria? Parece agressivo.
Mas não seria mais nocivo que aqueles olhos.
Já não bastava ter preenchido um dos meus sentidos,
Me leva outro.

Me desconheço naquele presença,
Instaura-se uma confusão que me deixa mudo.
Seguida de uma bobagem que me põe a falar.
Só volto a si na sua ausência.

E a obra só se completa quando ela voltar a passar.

Perfume leve

Ela passa por mim,
Sinto um perfume leve,
cítrico, primaveril.
Uma beleza fresca.

Um aroma delicado.
Quem dera ela se portasse assim
Leve e delicada,
doce, aveludada.

Mas é densa, complexa,
perplexa em silêncio,
um olhar que busca todas as respostas
e que seja em uma só pergunta.

Mas o que me encanta é isso,
É este perfume que não tem o menor compromisso
de ilustrar a mulher que ela é.
E que deste engano se alimente o meu encanto,
enquanto não passa o torpor daquele perfume.

Amar as curvas

Amar as curvas parece fácil, observar e deixar-se levar pela tentação descrita em sua forma mais bruta é bem simples. Está tudo lá revelado pela luxúria e pela auto-estima elevada ao extremo. Um extremo tãe exagerado que deixa de ser estima. O mais admirável é descobrir a beleza oculta e lapidá-la, amar as celulites. Perdoa amor, o que quis dizer é, encontrar bons sentidos em todos os defeitos.

Quero que cada imperfeição que eu encontrar a torne única e faça de ti apenas mais interessante e mais irritante, que me tire o juízo. E quando me sentir longe de qualquer avaliação centrada, me entregue ao que sente minha carne e não pense em mais nada.
Nas perfeições extremas e nas belezas intocadas é que mora o pecado, sete, ou no mínimo um deles. Agradeço a convicção e o alívio que me dá quando vejo que você não é perfeita, e que nossa relação vai precisar ser refeita a cada nova descoberta. Porque a mesmice da beleza eterna enjoa, prefiro que você me surpreenda a cada vestido novo.

Importante mesmo é o momento que o amor se refaz.

Rota de saída da mesmice

Capítulo 1: Entre nós dois.

1.1) Use a mão esquerda para acariciar quem você ama.
Uma simples mudança de gesto pode renovar um relacionamento.

1.2) Ao acordar, ponha um CD para o seu amor.
Depois coloque suas sensações no modo randômico. Você vai saber qual a próxima música. Mas as sensações, estas vão lhe surpreender.

1.3) Grave outro CD com 10 músicas.
5 que seu amor goste e 5 que você gostaria que ouvissem juntos. Não há nada melhor para descrever um romance do que uma trilha sonora.

1.4) Abram uma garrafa de um bom vinho.
Duas taças, uma trilha e uma troca de olhares: cenário perfeito.

O que adicionaria a esta lista? Sussurre bem baixinho no ouvido dela(e) e depois me conta...

Xeque-mate

Num simples movimento,
o peão monta o cavalo,
pede benção ao bispo,
atravessa o tabuleiro,
sobe a torre,
foge com a rainha
e derruba um rei.

E antes de se mover
era um simples peão.

Roda de Samba

Malandro mesmo é o cavaquinista que acompanha os músicos da velha guarda na roda de buteco monta sua melodia ao redor de um mí menor, se engana com um fá sustenido e volta ao lamento com um sí menor. Surpreende e mostra a ginga no lá com sétima depois da dominante. O acorde questiona, incomoda. O correto é responder com ré maior e entoar o refrão, aproveitar o estribilho, até cair no próximo mi menor.

Ofício: Diretor de arte

Muito prazer, eu sou diretor de arte. Sim, isso mesmo: Diretor de Arte.
Não, não sou aquele rapaz que “manja” de Corel. Aliás, já nem uso o Corel.
Não, não posso dar aquela “tratadinha” na foto da sua sobrinha.
Que tal conversarmos um pouco?

Queridos amigos para falarmos um pouco mais sobre direção de arte,
gostaria que vocês minimizassem o Corel, o Illustrator, InDesign e o Photoshop.
Fechem a janela do navegador e deem um duplo clique na janela do raciocínio.

O ofício de um diretor de arte não vai muito além da sua própria definição.
Direção, no sentido de direcionar mesmo, dar uma direção.
Mas direcionar o que? Direcionar seus olhos. O que eles enxergarão primeiro?
E como vão interpretar o que eles veem. Essa é a doce missão de um Diretor de Arte.

Se para você parece simples, tente prestar atenção às coisas que prendem seu olhar
E pense por um minuto porque seus olhos ficaram presos ali. Pode ser uma foto,
uma cena, um anúncio, uma vitrine. Imagine agora que alguém planejou que seus
olhos parassem ali. Pense em como e porque aquele objeto chamou a atenção dos
seus olhos. Complicou?

Bom, a parte da direção está ok! Agora, como fazer isso tendo as artes como ferramentas?
O que seus olhos preferem ver? Uma foto, um filme, um cartaz? Qual a melhor forma
de você entender esta mensagem que quero lhe passar? Eu escolhi este texto para passar minha mensagem porque tinha argumentos para apresentar, ideias para discutir, foi a melhor forma?
Você, amigo(a) leitor(a) quem me dirá.

Direcionar seus olhos para uma mensagem utilizando as artes para isso, isso é coisa de raciocínio.
Não do pacote da Adobe. Quer provas? Duvido que aconteça alguma coisa depois do “Ctrl+N”
sem você pensar um pouco. Depois do raciocínio, do pensamento, do esmero, vem o resultado.
Quer uma contrapova? A melhor figura para alguém que não pensa nada é uma folha em branco.
Ao abrir o seu programa gráfico favorito, pressione "Ctrl+N", veja o que acontece...
Uau! Uma folha em branco. Fato: Nenhum programa pode pensar por você.

Quando alguém se apresentar como Diretor de Arte, imagine alguém que se dedicou a estudar as artes
e entendê-las de uma forma que possam guiar seus olhos para uma mensagem que ele queira lhe passar, que você possa entender.

Se esta pessoa não se encaixar neste perfil, a frase correta seria: Muito prazer, eu sou um charlatão.
E já lotamos o inferno de boa intenção. Então, se você procura um diretor de arte, procure quem conheça seu olhos.

Genial

Não é simplesmente genial? É exatamente assim que você pensa depois de um toque de mestre, uma pincelada, um clique ou uma palavra. O que traz a genialidade à tona é simples. Parece pequeno, mas é exatamente o que define o que é genial.

Não consigo ver outra forma de definir isto que estou dizendo senão as palavras de um simples gênio:
"Simplicidade é a última forma de sofisticação."
Leonardo tocou no exato ponto que eu gostaria de ilustrar: conseguir alcançar a simplicidade é sublime.
Em tempos que a simplicidade de um rei venceu o carnaval. Quero demosntrar como a simplicidade torna o comum genial.

Ele pega a bola e num toque dribla o zagueiro, arma o chute e próximo ao desfeho óbvio, surpreende a magnética e limpa não apenas um mas dois zagueiros, e num simples toque sem força, todo jeitoso, coloca a bola no gol.

Você abre a revista e entre uma página e outra se depara com uma imagem que lhe leva a questionar: O que é isso? Do que se trata? e numa simples frase ele lhe surpreende, lhe mostra um produto sob uma ótica inesperada. Primeiro, genial quem trouxe a foto que lhe tirou da sua pífea zona de conforto. E por fim, ainda mais genial quem soube sintetizar tudo isso numa frase e lhe mostrar uma nova perspectiva construindo apenas uma frase. Isso, senhoras e senhores, é simplesmente genial.

Ele abre sua máquina de escrever e descreve estrofe após estrofe um clima, um mundo, abre as portas de um ponto obscuro teu que nem você mesmo conhecia. Ele rima, ou não, mas é certeza que de verso em verso ele arrebata seu coração e num simples vocábulo garimpado de toda sua poesia, retira todo seu folego e faz sorver aquela lágrima, você nem se lembra que era capaz de chorar com palavras. Esta palavra é genial.

Nada que é complicado, confuso, prolixo, ambíguo e descartável pode ser genial.
Ser objetivo, sucinto e simples, nem preciso dizer não é?

E se eu conseguisse lhe dizer tudo isso em apenas uma frase de sete palavras?

Minha carne é de carnaval

Sugiro carregar este vídeo e executá-lo junto com a leitura:
Ensaio Técnico da "Furiosa" - Salgueiro (2005) Faz toda diferença!

Minha carne é de carnaval, meu coração é igual,
Desejo que meu carnaval seja da bateria furiosa,
Bate no surdo de primeira, respira no de segunda.
Que o de terceira seja só a sensação louca da batida acelerando.

Está pronto o cenário pro meu samba renascer brilhante e pungente
Que os tamborins sejam cada arrepio do meu samba-enredo
A melodia descrita neste cavaquinho renasceu dos meus lamentos.
E a paixão por cada lantejoula daquele barracão me tirou as lágrimas,
E transformou meu peito na avenida de uma doce ilusão.

Nesta bateria coube a você o repique, que sinaliza, alinha a andamento.
Onde estava com a cabeça de lhe dar o comando das paradas?
Minha bateria evolui sem recuo, faz o desfile, transforma o momento.
Se ela parar de bater, deixo de viver.

De viver este momento, esta batida, esta doce ilusão.
Por isso, meu amor, lance a serpentina, e não deixe o samba atravessar,
Meu coração depende desta batida.