Café da manhã

Meu amor vou explicar como é que é,
ele tem o sal da manteiga e o doce do café,
te alimenta todas as manhãs,
sem manha, só a façanha de me reapaixonar.

Sua falta é faca no queijo,
corta um pedaço do que é gostosura.
Me priva de um simples beijo,
faz do meu dia um leve gastura.

E ansioso, estou a procura de uma nova manhã
com você ao meu lado de cama.
Então, antes de ir tomar seu café, me chama?

Gostosa

Gostosa tem um sentido lato, mais amplo. Porque gostoso mesmo é o recheio.
A gente vem seguindo a receita, lê rápido a massa e segue logo pro recheio.
Lá mora a delícia, lá vive o deleite.

Então, encha o peito e diga bem no ouvido dela: Você é uma gostosa!
Depois aproveite a noite explicando o sentido amplo que este adjetivo tem.

O deleite pleno, enxergar a beleza em cada traço, fazer de cada abraço
um amasso, só pra sentir o coração mais perto. A maneira mais gostosa.

Quadro branco

O quadro branco está manchado, as velhas ideias ainda permeiam os novos diagramas. Alguns chamam isso de experiência e de vivência. Estão certos. Mas pergunto, o que fazer quando os velhos rabiscos tiram a nitidez de novos traços?

A desconstrução do antigo, do velho é metade da iniciativa que vai gerar o novo. Existe um lugar onde não guardamos anotações, onde não colecionamos frustações. Um lugar onde só resta o certeza de onde queremos chegar e que significado este objetivo deve ter.

Neste ponto, percorrer o caminho deve ter o mesmo signficado da chegada: construção. Edifique um conhecimento que jamais ruirá e este conhecimento não está  nas manchas de um quadro branco que fora várias vezes apagado, está na caneta e no traço que dela virá.
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Uma sincera homenagem a Oscar Niemeyer

Retrato


Sobe uma linha agressiva de arrepio quando vejo aquela foto.
É um olhar que só as lentes puderam captar, mas só eu sei o que significa.
Um constraste denso com as linhas tênues daquele retrato.

Uma evocação emoldurada de um sentimento o qual não entendo.
O obturador pode explicar a velocidade que ele arremata meu peito,
perco o fôlego e como se não houvesse diafragma respiro ofegante.

Até me iludir com o que nunca foi: só uma foto.

Ode ao jogo de cintura

Às favas com as decisões, uns dizem que é preciso racionalizar,
mas, como? Se a sensibilidade também for importante.

Outros teorizam que é preciso equilíbrio,
no entanto, e se as melhores decisões forem as que tem
uma pitada de desequilíbro?

Se cada escolha envolve uma renúncia,
é preciso coragem. Coragem para escolher
ou para renunciar?

Se renunciar for covardia, o quão covarde
pode ser uma escolha?

Decida-se.



Samba pra ela

Tomou o último gole de um copo que não era o dela.
Levantou-se e ganhou a pista. Sorriu ao primeiro cavalheiro, que aceitou a dançar.
Giravam o salão ao ritmo de um samba que já não importava a letra.

Ela se jogou aos braços de um homem que não conhecia. Os passos, estes eles conheciam.
Passada a insegurança de quem se atira a um desconhecido, ela riu.
Ria muito, reclinava a cabeça pra trás rindo ainda mais enquanto rodava na ponta dos pés.
Não era prazer nem êxtase, era desventura.

Achou graça de todas as bobagens que disse e das certezas que não disse.
Desdenhou a beleza que tinha, esqueci o parceiro (de dança) e lembrou o outro.
Recordou lições de moral que lhe dariam efêmero conforto.
Nenhuma delas chegou aos pés da letra daquele samba.

A letra agora faz sentido. Pisava rápido, forte, se enchia de orgulho, ferido, mas ainda orgulho.
O vestido pareceu pequeno e deslizava naquele corpo magro. Os homens olhavam.
Era só ela, mas ninguém que pudesse dançar com o sorriso como o dela.

Mais tarde, ao chegar em casa, jogou as chaves e deitou, tentava se certificar que não fora um sonho.

Vossas excelências, os vereadores


Acredito que nenhum dos estimados leitores compra produtos baseados apenas no código de barras do mesmo. "Mas que figura ridícula, senhor autor." Podem dizer alguns, mas lhes afirmo o sistema de escolha para o poder legislativo municipal, vulgos vereadores se dá exatamente desta forma.

Sem boca de urna e nem mesmo preferência política, acredito que o sistema de escolha para estes candidatos não corresponde à democracia que merecemos. Um país que se orgulha de ter um dos melhores sistemas eleitorais do mundo e que tem trabalhado duro em todos os níveis e partidos para extinguir a corrupção não pode permitir um sistema de escolha como este.

A pergunta que reina na cabeça de cada eleitor: Como escolher um candidato a vereador? Temos opções: 1) Escolha pela combinação numérica mais agradável: crescentes, descrescentes em blocos de números, como preferir. 2) Escolha o apelido mais bem-humorado: o candidato da feira, da escolinha, do gás, do bar, você é quem sabe. 3) Escolha o que usa mais imperativos e rimas: Para ficar legal, vote fulano de tal, Para continuar com nosso plano, vote beltrano. Contra a corrupção vote Melão, vote, faça, quem tiver síndrome de marionete, vote na candidatete.

Entre as pérolas que acumulo, segue sendo mais interessante votar nulo. Perdão pela rima, contagia! Votar não está no coração e nem é um ato que pode se valer da popularidade deste ou daquele candidato. Voto é racional, escolhendo candidato pelo nome e pelo trabalho. A figura da entrevista de trabalho é perfeita. Que tal imaginarmos que estamos entrevistando suas excelências, futuros vereadores? Assim fica mais fácil avaliar as respostas para as questões sociais, econômicas e políticas que queremos resolvidos.

Um eleitor.   

Agentes

A gente vive dizendo que trabalha numa agência de propaganda, mas aqui tem um problema.
Estritamente, por definição, quem trabalha em uma agência são agentes. E se mergulharmos ainda mais fundo na etimologia da palavra, agentes são aqueles com a capacidade de agir.

A análise do verbete está apenas começando. Agir é uma palavra que não volta atrás nem mesmo na soletração. Começando pelo "A", dando um passo cauteloso do "G" pro "I" e saltando para o "R". Lembrando que antes de alcançar a ultima letra, a soletração passa pelo "P" e "Q". A toa? Não. Juntas, as duas letras formam a nova grafia da palavra "porquê". Afinal, é preciso questionar o propósito, o porquê, antes de chegar no "R" de resposta.

Alfabeticamente, uma lição para os agentes de propaganda. Aqueles que agem duas vezes antes de pensar. O amigo conservador pode pensar que isso seja imprudente. Mas vamos concordar que não há aprendizado sem erro, certo?. Então, quanto mais oportunidades de errar, mais oportunidades de aprender. Portanto, por quê planejar o acerto se eu posso aprender com erro?

Uma questão digna de quem ainda tem toda a juventude para aprender e aprimorar um ofício. Uma questão digna de quem tem um mundo lá fora, onde as pessoas antes de ter redes eram mais sociais e hoje descansam planejando o que postar. Recostam-se tranquilos resignando-se do papel de serem agentes das mudanças que querem para o mundo.

Haja paciência! Aja sem paciência. Se tiver que ser, que seja hoje.

O vendedor de espelhos


As pessoas se conectam, ok isso já sabiamos. Formam redes de relacionamento, ok estamos olhando isso com mais afinco agora. O mais interessante é que tudo se tornar tão “sociável” que ficou mais fácil ver as empresas como pessoas e não mais como “ideiais”.
Talvez surta mais efeito se você, empresário, deixar de descrever sua empresa como um pote inerte contendo três papelzinhos dobrados, um com uma missão, outro com uma visão e um outro como uma lista de valores. Ficou bem mais fácil e bem mais próximo tratar as empresas como pessoas.
Hoje é trivial, ter ideias, sonhos como alguém que você conhece, confia, alguém com quem você pode se relacionar. Nestes novos contextos, definir um conceito e começar o trabalho a partir dele seria como se você assumisse seu superego, sabe aquele que o Freud descreve?
Olhando para si próprias, as empresas se vendem (no bem sentido) por diversidade de perfis, de projetos, de soluções. Em cada um destes itens está presente esta “personalidade” corporativa. Cai a estratégia em favor da competição, temos agora a reflexão e o auto-conhecimento como diferenciais que compõe um mercado como um todo.
A nova economia para que não haja competição, não mais topo. As empresas se comportam como células que integram um organismo maior. Sua funcionalidade determina sua participação no mercado, sua relevância, não somente sua importância.
Olhando de maneira mais ampla, como conjuntos, as empresas já não vencem por justaposição competitiva sobre outras vencem pela intersecção de princípios e de valores agregados a elas.


Cabelo ao natural

Nada me faz perder a cabeça
quanto cabelo dessarumado
de mulher.

Queria eu ter dessarumado.

Chama


Mirem só o quão foi importante descobrirmos o fogo. Não há como imaginar nosso futuro sem este elemento. Aquecer e queimar, destruir e purificar. No entanto, sobrou uma figura que ainda me intriga, por que associarmos o que sentimos a uma chama? O destino primeiro da chama é se extinguir. Quanto mais aumentamos a intensidade do fogo, mais breve a matéria que o gerou se torna cinzas.

Parece pessimista. Mesmo assim, não existe espetáculo mais bonito do que apreciar uma chama em plena incandescência. Que cores! O calor é tamanho que você fica como espectador sem poder tocar a beleza hipnotizante do fogo.

Sentado à beira da fogueira de suas paixões, podemos escolher. Observar a lenha queimar até alcançar a escuridão do carvão ou sermos a matéria que compõe as labaredas e sermos consumidos pela chama do que amamos. 

Ao teu lado me sinto pequeno


Ao teu lado me sinto pequeno, não porque quero nem porque deveria. Sinto-me assim pela maneira como você me olha, uma doçura, uma ternura, eu quero mais, quero diferente. Muitas vezes os poetas se fazem meninos para conquistar suas musas pela nobre inocência da infância. Para minha musa, só gostaria de ter crescido, queria ter ganhado importância. 

Talvez seja mania pueril brincar, brincar com os sentimentos. Saiba o quanto é duro querer ser tanto maduro quanto este seu desejo, vou contrariar a natureza e apressar meu crescimento só para desfrutar deste momento. Porém, para nós dois o tempo é um só se encurto minhas experiências em benefício de meu crescimento. Torna mais breve também teu amadurecimento. Diminui minha admiração, mantem-se a distância.

Que esta distância seja mantida e que teu olhar me renda mais versos.

Sublime brisa


Há uma leve e doce poesia em sentir-se amado. Assim como há muito mais verdade e paixão quando os sentimentos são transparentes. Nos sentimos plenamente satisfeitos e completos ao ver o ser amado flutuando de paixonites pelos corredores.

Podemos nos sentir até um pouco acanhados. Que bogagem! Não existe nada que seja mais nobre do que receber o amor de alguém de coração aberto. Ouvi num verso de música: Saber amar é saber deixar alguém te amar. Quanta sabedoria moram nestas palavras!

O deleite por este momento á tão grande que pode se estender para a auto-estima, nos vestimos de maneira mais ousada ,mas sem querer seduzir, nem sequer chamar a atenção, e sim pela simples celebração de ter um sentimento recíproco.

Um brinde ao amor bem correspondido!

Catarse


Catarse. Nada melhor que os momentos de catarse.
O acúmulo de pequenas tensões, discussões até consigo mesmo
E num breve estalo, mando às favas os padrões, os refrões, os grilhões.
Vou agora é cantar músicas sem letra, dançar sem par.

Celebrar o simples fato de me mover, rodopiar.
Andar sem caminho e sem traço. E o que você quiser fazer por mim,
Deixe que eu mesmo faço, quero saborear cada passo em falso.
Brincar na beira do abismo.

Quero extravasar cada gota, sorver o último gole.
Quando acabar, que pareça ter sido uma ilusão.
Você pode me censurar quando quiser, mas eu vou lutar.
Lutar pelo direito aos meus momentos de catarse.

Fingimento

Ela parece fingir inocência, constrói em torno de si mistério. Não parece haver relação entre aquela libido e o ingênuo, temos sim um belo despautério. No entanto, ao final, nem parece e nem finge, só fica a dubitável nuvem. E por trás desta nuvem? Existe tempestade? Ou seria apenas uma brisa? Nada mais sedutor que a dúvida.

Se tempestade ou brisa, já não estou certo. Apenas sei que estou escrevendo ao vento. Sobre sua libido, talvez ela nem saiba o que significa a palavra, claramente ingênua. Mas ao recitar os versos de minha fixação aqueles olhos de deleite reavivam o mistério. Sua fingida! Por que esconder tamanha perspicácia? Se está me entendendo não se finja de desentendida. Se não compreende, me faça o favor de se fazer de sabida.

Enquanto isso vou me fingir de poeta e cortejar sua atenção, quem sabe o mistério se resolva, a máscara se dissolva e a gente pare de fingir.

Que tal você sem fio?

Com certeza meus amigos não há nada mais antiquado do que estar antenado. Num mundo tão wi-fi quanto o nosso, receber informações por antenas é com certeza um atraso. Há um certa revolta ao ver que ainda soa quase como pré-requisito para ingressar na profissão o perfil do “antenado”.

Afinal, se não me falha a etimologia, o fato de ser “antenado” significa receber por antenas, e neste significado não são as malditas antenas que me incomodam, e sim o verbo re-ce-ber. Ter uma atitude passiva de recepção de informações é completamente inaceitável. Mas faz-se necessário a construção de uma figura que ilustre bem a jornada de um futuro publicitário. Ok, pense o seguinte, o que faz um profissional qualificado nesta área não é a capacidade de receber informações e nem tão somente o poder de transmiti-las, e sim o trânsito que estas informações tem sobre você. A maneira com que você lida com as informações que recebe, e o cuidado e precisão no momento de transmiti-las é que escrevem uma bela história. Simples não.

Esqueça as antenas e retransmita seus sinais como um roteador, estou certo de que você vai se conectar com mais pessoas e neste caso, diferente da tecnologia que temos disponível quanto mais pessoas conectadas em seu sinal melhor.

Blá, blá, blá? Pergunte-me como.

Quer perder peso? Então, divirta-se!

E não há, minhas amigas e meus amigos, uma equação psicossomática mais bem resolvida do que esta. Divertir-se, ou seja, fazer com que seu corpo se sinta bem, isso traz recompensas. Coloca seus músculos e nervos aptos a se divertir ainda mais.

Outra máxima quase irrefutável: seu corpo responde ao que você lhe propõe. Procure algo mais interessante para propor a este templo sagrado da sua alma. Sugira a ele algo que o faça feliz e a razão da felicidade do seu corpo é o movimento. Na mesma proporção que a razão da felicidade do seu cérebro é a pausa, o refresco, esvaziar a cabeça, meditar.

Aos vigilantes constantes da balança cabe a árdua tarefa de controlar a boca e as famigeradas calorias. Acredito que seja o mesmo que dar a um bêbado pequenos goles de sua bebida predileta tentando incentivá-lo a largar os copos. Largar os garfos não é divertido. Divertido é colocar o corpo para funcionar. Se você não gosta das calorias, queime-as. Não procure cultivá-las em pequenas quantidades.

A questão que sobra é: Como posso divertir meu corpo? Agora, chegou a hora de colocar a cabeça para funcionar.

O publicitário e o seu dia

Ao postar algo postar algo sobre o dia do publicitário, não use pizzas, não use lâmpadas, não use horas extras, não use clientes insatisfeitos e não use briefings mal redigidos. Que tal presentear-nos com o que fazemos de melhor?

Olhar estas imagens sobre como nos vemos, como nossos pais nos veem e blá, blá, blá.. Só demonstram o potencial que temos para tornar as coisas públicas, mas ultimamente tem sido as coisas erradas. Quando você discute sobre Vik Muniz, fala sobre lixo ou sobre beleza? Já que em breve o assunto vai ser a Copa, você discute as 14 edições que perdemos, as derrotas de 50 e 82 ou bate no peito e diz que somos pentacampeões? Escuta aqui menino...

Como nossos pais (Belchior) - Elis Regina
Nívea Sun Art

Quero ser visto pelos meus pais, pelos meus amigos e por mim mesmo como alguém que se esmera em busca de cultura, de boas referências para trazê-las para as marcas. Não sou o profissional das sacadas, não sou fábrica de trocadilhos. Me orgulho por ter meu raciocínio estratégico e senso crítico como ferramentas de trabalho.

Nizan Guanaes - Itaú Insights

Quando a paixão de fazer bem feito voltar do Canadá, faremos campanhas tão memoráveis quanto um trending topic, curtir o que faz é diferente de fazer para alguém curtir. Raciocínios e conceitos de causar inveja: Ui, ele faz conceitinho! Quando o amor pelo que fazemos superar a sensação efêmera do glamour descolado bacaninha que nos cerca, aí sim teremos bons trabalhos vindos de todos os lados, e quando você faz um bom trabalho, as mina pira.

Obrigado ao Duda e ao Marcos e a uma corja de charlatões, por mostrar para este país o que um publicitário não deve ser.

E um obrigado sincero ao David, ao Bill, ao Nizan, ao Washington, ao Sérgio, ao Fábio, ao Marcelo, ao Fernand, ao Ken, ao Raul, e mais uma imensa, enorme lista de pessoas que fazem dessa profissão inspiradora.

Feliz dia do Publicitário!

A onda dos sonhos

No canto da praia atrás de uma bandeirola, sentado abraçando os joelhos ele sonhava com cada cavada, premeditava uma rasgada que só seria possível naquela onda que montava na sua cabeça. Embriagado pela brisa daquele sonho nem percebeu que os surfistas já haviam saído da água, acordou subitamente com o flash de um repórter que recebia o campeão daquela bateria.

A tranqüilidade e a suposta solidão que tinha quando estava no mar deram lugar a uma muvuca de microfones, mãos esperando autógrafos. Os olhos dele Sá estavam acostumados ao reflexo do sol no oceano e não aquela bateria de luzes, luzes e luzes.

Nenhum sol que recebeu nas costas ardia mais que aquela pressão em saber o que esperava da próxima bateria.

Como num caldo dos mais fortes, ele estava perdido, cada sonho havia virado um patrocinador de roupas, de óculos ou acessórios. Cada manobra nova que seu corpo aprendia, cada nova palavra que ele descobria no seu diálogo com as ondas haviam se tornado pontos de uma competição que o levaria a mais repórteres e mais flashes.

Naquela noite, levou a prancha para a praia como quem espera alguma resposta dos 5,6 pés de fibra. Sentou-se a beira do mar, abarcou os joelhos e como num sonho cada adesivo de patrocinador em sua prancha se tornava uma rasgada, cada símbolo de sua camiseta se tornava um tubo e ouvindo o som das ondas sob a luz da lua das marés e voltou a ser aquele garoto que se sentava no canto da praia para aprender a surfar.

Minhas férias

Nestas férias vi um filme de Godard e aprendi a surfar,

Tive vários exemplos de leseira extrema e preguiça sem par,

Mas nada, nada mesmo, supera a doce sensação de rodar.

Rodar pela estrada, rodar numa ciranda, rodar o pensamento

sem uma conclusão para chegar.

A simples atitude de esquecer qualquer pretensão de compromisso.

Fazer o que quiser pelo simples prazer de estar lá, hedonismo.

Que todos nós ainda sintamos este tesão em fazer o que quiser sempre.

Que tenhamos eternas férias, férias da chatice.

Lembra o que ele disse: Antes de pensar, aja duas vezes.

Aja pelo prazer de fazer, pela delícia de completar.

Bom trabalho! Ou seriam boas férias?

O que Pepe aprendeu com Sócrates.

Pepe, entra já para casa menino! Dizia su madre. mas o menino insistia em ouvir o papo do pai e alguns amigos no botequim da esquina. Ouvia sober todos os esquemas táticos do todas as equipes da primeira divisão e de algumas seleções. A pós-graduação de su curso veio em 1982 quando assistiu a um canarinho que trinava entre as zagas do mundo. Sabes o que é trinado, meu amigo? Peça a um amigo músico ou mesmo ao Sr. Google para lhe mostrar um trinado numa pauta musical. Veja a incrível semelhança com o esquema de passes daquela nostálgica seleção brasileira.

Grata surpresa do destino o menino Pepe, hoje Guardiola viu em 1994 uma seleção entrar em campo de mãos dadas unidos pela humildade de seus aprendizes. Cada jogador era exatamente isso, aprendiz de uma geração que ensinou ao mundo o que futebol representa e não como se joga. Sem falar em Parreira, aprendiz de Telê. Tetracampeões entram de mãos dadas, aprendeu Pepe? Com certeza professor.

Eta destino levado! Aprontou uma final de campeonato mundial de clubes com o futebol de Cruiff, Pepe, Messi e Cia. Contra nossa jóia do futebol-arte e a genialidade de um meio-campista. Aqui cabe ao leitor uma elegante omissão do placar. Mas o que importa é a lição.

Se bola fosse palavra, o que diríamos diante de um discurso de uma hora e sete minutos? Um belo pronunciamento senhoras e senhores, com discussões ágeis e conclusões perspicazes. Diziam aqueles 11 garotos que dividiam a bola como numa brincadeira: Democracia cabe ao futebol também. O gol não é apenas decisão de um atacante oportunista, é construído pelo argumento de todos. Nos coube reconhecer, no tempo que restou, que temos uma copa para aprontar. Não com estádios e obras super faturadas, mas sim com o mais autêntico, genuíno e democrático futebol arte.

Obrigado doutor!