Café da manhã
ele tem o sal da manteiga e o doce do café,
te alimenta todas as manhãs,
sem manha, só a façanha de me reapaixonar.
Sua falta é faca no queijo,
corta um pedaço do que é gostosura.
Me priva de um simples beijo,
faz do meu dia um leve gastura.
E ansioso, estou a procura de uma nova manhã
com você ao meu lado de cama.
Então, antes de ir tomar seu café, me chama?
Gostosa
A gente vem seguindo a receita, lê rápido a massa e segue logo pro recheio.
Lá mora a delícia, lá vive o deleite.
Então, encha o peito e diga bem no ouvido dela: Você é uma gostosa!
Depois aproveite a noite explicando o sentido amplo que este adjetivo tem.
O deleite pleno, enxergar a beleza em cada traço, fazer de cada abraço
um amasso, só pra sentir o coração mais perto. A maneira mais gostosa.
Quadro branco
A desconstrução do antigo, do velho é metade da iniciativa que vai gerar o novo. Existe um lugar onde não guardamos anotações, onde não colecionamos frustações. Um lugar onde só resta o certeza de onde queremos chegar e que significado este objetivo deve ter.
Neste ponto, percorrer o caminho deve ter o mesmo signficado da chegada: construção. Edifique um conhecimento que jamais ruirá e este conhecimento não está nas manchas de um quadro branco que fora várias vezes apagado, está na caneta e no traço que dela virá.
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Uma sincera homenagem a Oscar Niemeyer
Retrato
Ode ao jogo de cintura
mas, como? Se a sensibilidade também for importante.
Outros teorizam que é preciso equilíbrio,
no entanto, e se as melhores decisões forem as que tem
uma pitada de desequilíbro?
Se cada escolha envolve uma renúncia,
é preciso coragem. Coragem para escolher
ou para renunciar?
Se renunciar for covardia, o quão covarde
pode ser uma escolha?
Decida-se.
Samba pra ela
Levantou-se e ganhou a pista. Sorriu ao primeiro cavalheiro, que aceitou a dançar.
Giravam o salão ao ritmo de um samba que já não importava a letra.
Ela se jogou aos braços de um homem que não conhecia. Os passos, estes eles conheciam.
Passada a insegurança de quem se atira a um desconhecido, ela riu.
Ria muito, reclinava a cabeça pra trás rindo ainda mais enquanto rodava na ponta dos pés.
Não era prazer nem êxtase, era desventura.
Achou graça de todas as bobagens que disse e das certezas que não disse.
Desdenhou a beleza que tinha, esqueci o parceiro (de dança) e lembrou o outro.
Recordou lições de moral que lhe dariam efêmero conforto.
Nenhuma delas chegou aos pés da letra daquele samba.
A letra agora faz sentido. Pisava rápido, forte, se enchia de orgulho, ferido, mas ainda orgulho.
O vestido pareceu pequeno e deslizava naquele corpo magro. Os homens olhavam.
Era só ela, mas ninguém que pudesse dançar com o sorriso como o dela.
Mais tarde, ao chegar em casa, jogou as chaves e deitou, tentava se certificar que não fora um sonho.
Vossas excelências, os vereadores
Agentes
Estritamente, por definição, quem trabalha em uma agência são agentes. E se mergulharmos ainda mais fundo na etimologia da palavra, agentes são aqueles com a capacidade de agir.
A análise do verbete está apenas começando. Agir é uma palavra que não volta atrás nem mesmo na soletração. Começando pelo "A", dando um passo cauteloso do "G" pro "I" e saltando para o "R". Lembrando que antes de alcançar a ultima letra, a soletração passa pelo "P" e "Q". A toa? Não. Juntas, as duas letras formam a nova grafia da palavra "porquê". Afinal, é preciso questionar o propósito, o porquê, antes de chegar no "R" de resposta.
Alfabeticamente, uma lição para os agentes de propaganda. Aqueles que agem duas vezes antes de pensar. O amigo conservador pode pensar que isso seja imprudente. Mas vamos concordar que não há aprendizado sem erro, certo?. Então, quanto mais oportunidades de errar, mais oportunidades de aprender. Portanto, por quê planejar o acerto se eu posso aprender com erro?
Uma questão digna de quem ainda tem toda a juventude para aprender e aprimorar um ofício. Uma questão digna de quem tem um mundo lá fora, onde as pessoas antes de ter redes eram mais sociais e hoje descansam planejando o que postar. Recostam-se tranquilos resignando-se do papel de serem agentes das mudanças que querem para o mundo.
Haja paciência! Aja sem paciência. Se tiver que ser, que seja hoje.
O vendedor de espelhos
Cabelo ao natural
quanto cabelo dessarumado
de mulher.
Queria eu ter dessarumado.
Chama
Ao teu lado me sinto pequeno
Sublime brisa
Catarse
Fingimento
Que tal você sem fio?
Com certeza meus amigos não há nada mais antiquado do que estar antenado. Num mundo tão wi-fi quanto o nosso, receber informações por antenas é com certeza um atraso. Há um certa revolta ao ver que ainda soa quase como pré-requisito para ingressar na profissão o perfil do “antenado”.
Afinal, se não me falha a etimologia, o fato de ser “antenado” significa receber por antenas, e neste significado não são as malditas antenas que me incomodam, e sim o verbo re-ce-ber. Ter uma atitude passiva de recepção de informações é completamente inaceitável. Mas faz-se necessário a construção de uma figura que ilustre bem a jornada de um futuro publicitário. Ok, pense o seguinte, o que faz um profissional qualificado nesta área não é a capacidade de receber informações e nem tão somente o poder de transmiti-las, e sim o trânsito que estas informações tem sobre você. A maneira com que você lida com as informações que recebe, e o cuidado e precisão no momento de transmiti-las é que escrevem uma bela história. Simples não.
Esqueça as antenas e retransmita seus sinais como um roteador, estou certo de que você vai se conectar com mais pessoas e neste caso, diferente da tecnologia que temos disponível quanto mais pessoas conectadas em seu sinal melhor.
Blá, blá, blá? Pergunte-me como.
Quer perder peso? Então, divirta-se!
E não há, minhas amigas e meus amigos, uma equação psicossomática mais bem resolvida do que esta. Divertir-se, ou seja, fazer com que seu corpo se sinta bem, isso traz recompensas. Coloca seus músculos e nervos aptos a se divertir ainda mais.
Outra máxima quase irrefutável: seu corpo responde ao que você lhe propõe. Procure algo mais interessante para propor a este templo sagrado da sua alma. Sugira a ele algo que o faça feliz e a razão da felicidade do seu corpo é o movimento. Na mesma proporção que a razão da felicidade do seu cérebro é a pausa, o refresco, esvaziar a cabeça, meditar.
Aos vigilantes constantes da balança cabe a árdua tarefa de controlar a boca e as famigeradas calorias. Acredito que seja o mesmo que dar a um bêbado pequenos goles de sua bebida predileta tentando incentivá-lo a largar os copos. Largar os garfos não é divertido. Divertido é colocar o corpo para funcionar. Se você não gosta das calorias, queime-as. Não procure cultivá-las em pequenas quantidades.
A questão que sobra é: Como posso divertir meu corpo? Agora, chegou a hora de colocar a cabeça para funcionar.
O publicitário e o seu dia
Como nossos pais (Belchior) - Elis Regina
Nívea Sun Art
Nizan Guanaes - Itaú Insights
A onda dos sonhos
No canto da praia atrás de uma bandeirola, sentado abraçando os joelhos ele sonhava com cada cavada, premeditava uma rasgada que só seria possível naquela onda que montava na sua cabeça. Embriagado pela brisa daquele sonho nem percebeu que os surfistas já haviam saído da água, acordou subitamente com o flash de um repórter que recebia o campeão daquela bateria.
A tranqüilidade e a suposta solidão que tinha quando estava no mar deram lugar a uma muvuca de microfones, mãos esperando autógrafos. Os olhos dele Sá estavam acostumados ao reflexo do sol no oceano e não aquela bateria de luzes, luzes e luzes.
Nenhum sol que recebeu nas costas ardia mais que aquela pressão em saber o que esperava da próxima bateria.
Como num caldo dos mais fortes, ele estava perdido, cada sonho havia virado um patrocinador de roupas, de óculos ou acessórios. Cada manobra nova que seu corpo aprendia, cada nova palavra que ele descobria no seu diálogo com as ondas haviam se tornado pontos de uma competição que o levaria a mais repórteres e mais flashes.
Naquela noite, levou a prancha para a praia como quem espera alguma resposta dos 5,6 pés de fibra. Sentou-se a beira do mar, abarcou os joelhos e como num sonho cada adesivo de patrocinador em sua prancha se tornava uma rasgada, cada símbolo de sua camiseta se tornava um tubo e ouvindo o som das ondas sob a luz da lua das marés e voltou a ser aquele garoto que se sentava no canto da praia para aprender a surfar.
Minhas férias
Nestas férias vi um filme de Godard e aprendi a surfar,
Tive vários exemplos de leseira extrema e preguiça sem par,
Mas nada, nada mesmo, supera a doce sensação de rodar.
Rodar pela estrada, rodar numa ciranda, rodar o pensamento
sem uma conclusão para chegar.
A simples atitude de esquecer qualquer pretensão de compromisso.
Fazer o que quiser pelo simples prazer de estar lá, hedonismo.
Que todos nós ainda sintamos este tesão em fazer o que quiser sempre.
Que tenhamos eternas férias, férias da chatice.
Lembra o que ele disse: Antes de pensar, aja duas vezes.
Aja pelo prazer de fazer, pela delícia de completar.
Bom trabalho! Ou seriam boas férias?
O que Pepe aprendeu com Sócrates.
Pepe, entra já para casa menino! Dizia su madre. mas o menino insistia em ouvir o papo do pai e alguns amigos no botequim da esquina. Ouvia sober todos os esquemas táticos do todas as equipes da primeira divisão e de algumas seleções. A pós-graduação de su curso veio em 1982 quando assistiu a um canarinho que trinava entre as zagas do mundo. Sabes o que é trinado, meu amigo? Peça a um amigo músico ou mesmo ao Sr. Google para lhe mostrar um trinado numa pauta musical. Veja a incrível semelhança com o esquema de passes daquela nostálgica seleção brasileira.
Grata surpresa do destino o menino Pepe, hoje Guardiola viu em 1994 uma seleção entrar em campo de mãos dadas unidos pela humildade de seus aprendizes. Cada jogador era exatamente isso, aprendiz de uma geração que ensinou ao mundo o que futebol representa e não como se joga. Sem falar em Parreira, aprendiz de Telê. Tetracampeões entram de mãos dadas, aprendeu Pepe? Com certeza professor.
Eta destino levado! Aprontou uma final de campeonato mundial de clubes com o futebol de Cruiff, Pepe, Messi e Cia. Contra nossa jóia do futebol-arte e a genialidade de um meio-campista. Aqui cabe ao leitor uma elegante omissão do placar. Mas o que importa é a lição.
Se bola fosse palavra, o que diríamos diante de um discurso de uma hora e sete minutos? Um belo pronunciamento senhoras e senhores, com discussões ágeis e conclusões perspicazes. Diziam aqueles 11 garotos que dividiam a bola como numa brincadeira: Democracia cabe ao futebol também. O gol não é apenas decisão de um atacante oportunista, é construído pelo argumento de todos. Nos coube reconhecer, no tempo que restou, que temos uma copa para aprontar. Não com estádios e obras super faturadas, mas sim com o mais autêntico, genuíno e democrático futebol arte.
Obrigado doutor!