A onda dos sonhos

No canto da praia atrás de uma bandeirola, sentado abraçando os joelhos ele sonhava com cada cavada, premeditava uma rasgada que só seria possível naquela onda que montava na sua cabeça. Embriagado pela brisa daquele sonho nem percebeu que os surfistas já haviam saído da água, acordou subitamente com o flash de um repórter que recebia o campeão daquela bateria.

A tranqüilidade e a suposta solidão que tinha quando estava no mar deram lugar a uma muvuca de microfones, mãos esperando autógrafos. Os olhos dele Sá estavam acostumados ao reflexo do sol no oceano e não aquela bateria de luzes, luzes e luzes.

Nenhum sol que recebeu nas costas ardia mais que aquela pressão em saber o que esperava da próxima bateria.

Como num caldo dos mais fortes, ele estava perdido, cada sonho havia virado um patrocinador de roupas, de óculos ou acessórios. Cada manobra nova que seu corpo aprendia, cada nova palavra que ele descobria no seu diálogo com as ondas haviam se tornado pontos de uma competição que o levaria a mais repórteres e mais flashes.

Naquela noite, levou a prancha para a praia como quem espera alguma resposta dos 5,6 pés de fibra. Sentou-se a beira do mar, abarcou os joelhos e como num sonho cada adesivo de patrocinador em sua prancha se tornava uma rasgada, cada símbolo de sua camiseta se tornava um tubo e ouvindo o som das ondas sob a luz da lua das marés e voltou a ser aquele garoto que se sentava no canto da praia para aprender a surfar.

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