É como um banho

É como um banho, fico envolto de lirismo e sinto uma sensação de torpor. Uma leveza que conduz a um estado de pura sensação, sem raciocínio. Onde se encontra este tal raciocínio? Em nome deste momento, espero que ele demore a voltar.

Entro numa banheira onde a água fica como a poesia, simples, me abraçando em todas as direções. Por classififcação e ciência: inodora, incolor, insípida. Por degustação: um perfume inigualável e sedutor, uma policromia e um sabor daqueles que grudam no palato e na língua.

Nesta água, temos pétalas de rosas que flutuam. Estas são como os poemas, pequenos pedaços de natureza. Neste caso, estamos tratando de natureza humana. Os poemas, assim como as pétalas estão fora de seu local de origem, longe do caule. O lugar dos poemas é no mundo das ideias. Fica meu manifesto para que os poemas continuem belos e platônicos.

Voltando ao banho, existe algo muito interssante ao banharmos. A primeira coisa que devemos fazer antes de nos banharmos, de mergulharmos na poesia e senti o toque de um poema ao alcance do arrepio da pele, é ficarmos desnudos. Sim, desnudos.

Nus do personagem que construimos, fora da zona de conforto que há por trás das máscaras e dos figurinos. Isso, queridos leitores, hoje em dia é raro. Guardar é mais fácil que gastar, esconder é mais covarde do que expor. Mas, nisso tudo, há uma boa notícia.
Quando as roupas caem ao lado da banheira e submergimos membro a membro, a sensação é de relaxamento, a sensação é acolhedora.

São minutos da mais pura poesia, do toque profundo, sincero e desnudo. Não há nada mais bonito que a forma do toque. Perdão, há sim. O conteúdo do toque. Mas que desatino, toque lá tem conteúdo? Se você já sentiu um toque sabe do que estou dizendo.

Cercado de versos tudo fica mais iluminado, uma luminosidade que quase chega a cegar, mas esta luz só serve para focar o desejo, o anseio, a musa dos seus poemas. Quando o banho fica na temperatura ideal e o corpo relaxa. É como se ela te olhasse fundo nos olhos e o mundo girasse por detrás dela. Tudo mais perde a clareza e a eloquência. Só ela fica nítida. Um conteúdo com forma bem definida e há distância de um beijo do seu olhar. Perto.

Perto demais. A água parece perder a temperatura, vai ficando fria. O que acolhia e relaxava agora parece rejeitar, endurecer. É quando a toalha parece mais fofa. Todo banho acaba. São palavras demais. Quero me secar. Levanta da banheira deixa a água escorrer e se seca na toalha fofa.

Limpa os poemas e a poesia do teu corpo. Você continua nu, pelado, exposto, vulnerável. Se envolve na aspereza da toalha e cobre tuas vergonhas.

A umidade da poesia pode ser seca pelo calor das paixões, ela evapora. Sobe e volta. Será que chove hoje?

Nosso corpo é formado por uma grande porcentagem de água. Portanto, Banhar-se em poesia é como a pétala voltando à flor, a flor voltando ao caule. Por isso, vá e jogue seu corpo seco no calor de paixões ferventes e quando a chama se apagar, você vai parar.

Se chover me chama prum banho de chuva, quero banhar-me com você.
Depois da brincadeira e dos risos a banheira lá de casa te espera.

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