Cama de Caeiro

Que tal experimentar a doce sensação de não ter controle sobre as coisas?
É muito ambicioso, e também uma dose exagerada de pretensão de nossa parte, tentarmos controlar tudo que chega às nossas mãos, desde apontar melhor seu lápis até como usar melhor o último aplicativo para o seu smartphone. Quando este desejo de controle passa pelas nossas afeições, mais próximo de você, mais vontade de controlar. Aí que mora meu medo.

Num final de semana na fazenda descobri uma cama elástica. No primeiro momento, um medo comum e medíocre do desconhecido. No segundo, a ousadia da descoberta. Logo após a delícia da experiência. E o que vem depois? O famigerado pensamento: Como controlar essa sensação? Mas quis que este pensamento ficasse no chão e não subisse na cama elástica comigo.

Que grata surpresa! Não controlar só amplificou as sensações, os sentidos, as emoções. Pensar é estar doente dos olhos. Jamais pensaria que um brinquedo como aquele poderia me ajudar a entender Alberto Caeiro. Aí é que está a filosofia do poeta, não arquitetar, não prever, não preocupar, não controlar, não limitar. Isso, com certeza, constrói, realiza, ocupa, intensifica, amplifica.

Quando esqueci sobre os controles de graves e agudos da guitarra é que pude ouvi-la reverberar pelo palco. Minha visão foi além do tapete com a pedaleira e pude ver o público, as sensações, o choro, o riso, o êxtase de quem poderia me assistir ou de quem simplesmente esqueceu o show e beijou a menina do lado.

Fotografias não tem diafragma nem obturador, tem a emoção dos olhos de alguém. Lápis bem apontados ou os de ponta redonda (e todo mordidos) conseguem escrever histórias de alguém que as sentiu, as viveu. Um aplicativo se aplica a uma necessidade, a necessidade de alguém. Não controlar, não prever, não pensar. Isto é premissa básica de sentir, experimentar, viver.

Sorver os bons momentos na medida em que aparecem, procurar lidar com os problemas se houverem. No meio-tempo você vai estar muito ocupado vivendo outra experiência para pensar na próxima. Que tal?

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