Olhares anônimos


Oi, meu nome é... Não importa meu nome. Fazem dois dias que não cruzo um olhar. Talvez fosse um vicio, um cacoete, uma mania. Já não me lembro quem mandou eu me tratar. Cruzava olhares compulsivamente, a cada belo par de olhos a ansiedade me fazia sucumbir a aqueles olhares. 

Não fazia a menor diferença a moldura, se era gorda ou magra, mais velha ou mais nova, só mirava os olhos e em quantos imbróglios me meti. Me admirava o fato das pessoas não apreciarem a doce arte de cruzar um olhar. 

Quanto mais de doçura cabe naquele olhar? Mais um pingo e transbordaria. Via olhos cansados de tentar enxergar o horizonte e tinha também os olhos vivos de quem fotografa cada instante. Olhos molhados que olhavam baixo procurando uma razão, olhos que só passeavam pela multidão sem intenção. Eu documentava cada um destes no meu celular e passava noites em claro a procurar.

Não havia olhar mais doce que aquele. Procurei ajuda em outros sentidos: tentava ouvir as conversas, tentava abraçar as pessoas, mas nada cobria a falta de açúcar no café do meu olhar, que permanecia acordado e amargo, fissurado em procurar. 

Se eu bebesse, estaria em coma alcoólico. Se fumasse, teria câncer de pulmão. Só quero mais um dose. Mais um segundo para pousar meus olhos naqueles e tudo então fazer sentido, isso não é meu vício. É só um simples pedido.

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