Samba pra ela

Tomou o último gole de um copo que não era o dela.
Levantou-se e ganhou a pista. Sorriu ao primeiro cavalheiro, que aceitou a dançar.
Giravam o salão ao ritmo de um samba que já não importava a letra.

Ela se jogou aos braços de um homem que não conhecia. Os passos, estes eles conheciam.
Passada a insegurança de quem se atira a um desconhecido, ela riu.
Ria muito, reclinava a cabeça pra trás rindo ainda mais enquanto rodava na ponta dos pés.
Não era prazer nem êxtase, era desventura.

Achou graça de todas as bobagens que disse e das certezas que não disse.
Desdenhou a beleza que tinha, esqueci o parceiro (de dança) e lembrou o outro.
Recordou lições de moral que lhe dariam efêmero conforto.
Nenhuma delas chegou aos pés da letra daquele samba.

A letra agora faz sentido. Pisava rápido, forte, se enchia de orgulho, ferido, mas ainda orgulho.
O vestido pareceu pequeno e deslizava naquele corpo magro. Os homens olhavam.
Era só ela, mas ninguém que pudesse dançar com o sorriso como o dela.

Mais tarde, ao chegar em casa, jogou as chaves e deitou, tentava se certificar que não fora um sonho.