A onda dos sonhos

No canto da praia atrás de uma bandeirola, sentado abraçando os joelhos ele sonhava com cada cavada, premeditava uma rasgada que só seria possível naquela onda que montava na sua cabeça. Embriagado pela brisa daquele sonho nem percebeu que os surfistas já haviam saído da água, acordou subitamente com o flash de um repórter que recebia o campeão daquela bateria.

A tranqüilidade e a suposta solidão que tinha quando estava no mar deram lugar a uma muvuca de microfones, mãos esperando autógrafos. Os olhos dele Sá estavam acostumados ao reflexo do sol no oceano e não aquela bateria de luzes, luzes e luzes.

Nenhum sol que recebeu nas costas ardia mais que aquela pressão em saber o que esperava da próxima bateria.

Como num caldo dos mais fortes, ele estava perdido, cada sonho havia virado um patrocinador de roupas, de óculos ou acessórios. Cada manobra nova que seu corpo aprendia, cada nova palavra que ele descobria no seu diálogo com as ondas haviam se tornado pontos de uma competição que o levaria a mais repórteres e mais flashes.

Naquela noite, levou a prancha para a praia como quem espera alguma resposta dos 5,6 pés de fibra. Sentou-se a beira do mar, abarcou os joelhos e como num sonho cada adesivo de patrocinador em sua prancha se tornava uma rasgada, cada símbolo de sua camiseta se tornava um tubo e ouvindo o som das ondas sob a luz da lua das marés e voltou a ser aquele garoto que se sentava no canto da praia para aprender a surfar.

Minhas férias

Nestas férias vi um filme de Godard e aprendi a surfar,

Tive vários exemplos de leseira extrema e preguiça sem par,

Mas nada, nada mesmo, supera a doce sensação de rodar.

Rodar pela estrada, rodar numa ciranda, rodar o pensamento

sem uma conclusão para chegar.

A simples atitude de esquecer qualquer pretensão de compromisso.

Fazer o que quiser pelo simples prazer de estar lá, hedonismo.

Que todos nós ainda sintamos este tesão em fazer o que quiser sempre.

Que tenhamos eternas férias, férias da chatice.

Lembra o que ele disse: Antes de pensar, aja duas vezes.

Aja pelo prazer de fazer, pela delícia de completar.

Bom trabalho! Ou seriam boas férias?

O que Pepe aprendeu com Sócrates.

Pepe, entra já para casa menino! Dizia su madre. mas o menino insistia em ouvir o papo do pai e alguns amigos no botequim da esquina. Ouvia sober todos os esquemas táticos do todas as equipes da primeira divisão e de algumas seleções. A pós-graduação de su curso veio em 1982 quando assistiu a um canarinho que trinava entre as zagas do mundo. Sabes o que é trinado, meu amigo? Peça a um amigo músico ou mesmo ao Sr. Google para lhe mostrar um trinado numa pauta musical. Veja a incrível semelhança com o esquema de passes daquela nostálgica seleção brasileira.

Grata surpresa do destino o menino Pepe, hoje Guardiola viu em 1994 uma seleção entrar em campo de mãos dadas unidos pela humildade de seus aprendizes. Cada jogador era exatamente isso, aprendiz de uma geração que ensinou ao mundo o que futebol representa e não como se joga. Sem falar em Parreira, aprendiz de Telê. Tetracampeões entram de mãos dadas, aprendeu Pepe? Com certeza professor.

Eta destino levado! Aprontou uma final de campeonato mundial de clubes com o futebol de Cruiff, Pepe, Messi e Cia. Contra nossa jóia do futebol-arte e a genialidade de um meio-campista. Aqui cabe ao leitor uma elegante omissão do placar. Mas o que importa é a lição.

Se bola fosse palavra, o que diríamos diante de um discurso de uma hora e sete minutos? Um belo pronunciamento senhoras e senhores, com discussões ágeis e conclusões perspicazes. Diziam aqueles 11 garotos que dividiam a bola como numa brincadeira: Democracia cabe ao futebol também. O gol não é apenas decisão de um atacante oportunista, é construído pelo argumento de todos. Nos coube reconhecer, no tempo que restou, que temos uma copa para aprontar. Não com estádios e obras super faturadas, mas sim com o mais autêntico, genuíno e democrático futebol arte.

Obrigado doutor!